:::: MENU ::::

10 de mar. de 2016

(Foto: Tom Leentjes)
Fui apresentado à música de Bombino através do Julio Andrade, guitarrista, cantor e compositor do The Baggios. Que grande surpresa! Uma busca rápida revela o quanto esse artista da região de Agadez, no Níger, vem se desenvolvendo nos últimos anos.

Seu último álbum de estúdio se chama "Nomad" (2013). Ele foi produzido por Dan Auerbach, do Black Keys, que fez questão de convidá-lo para fazer o registro em seu estúdio em Nashville, nos Estados Unidos. 

A conexão Agadez-Nashville foi um sucesso. Ela ampliou o alcance de Bombino e, nos últimos anos, criou uma grande expectativa pelo próximo trabalho. A boa notícia é que tudo já está pronto: "Azel" será lançado no dia 1º de abril. Dessa vez, a produção ficou sob responsabilidade de Dave Longstreth, do Dirty Projectors.


O "Jimi Hendrix" do deserto

Antes de falar de "Azel", um pouco sobre a história de Bombino torna sua obra ainda mais interessante. Ele nasceu em um acampamento Tuareg, em meio a perseguições do governo do Níger, e viveu boa parte da juventude como refugiado na Argélia e na Líbia. A atmosfera desfavorável não impediu que o jovem pastor de cabras aprendesse a tocar guitarra ouvindo bandas africanas como Tinariwen e Terakaft, que já faziam uma mistura de blues, rock e ritmos tuaregues, além de nomes mais conhecidos do universo pop, como Jimi Hendrix e Mark Knopfler. As influências roqueiras renderam a Bombino apelidos como "Jimi Hendrix do deserto" e "Dick Dale do Saara".

Em 2007, quando já se apresentava profissionalmente e havia retornado ao seu país, precisou se exilar mais uma vez, dessa vez em Burkina Faso. Dois amigos músicos foram mortos por tropas do governo e a guitarra foi proibida por ser considerada um símbolo da Rebelião Tuareg.

Festival Mimo: Bombino se apresentou no Rio de Janeiro, em novembro de 2015 (Foto: Rogério von Kruger/Mimo/Divulgação)
Uma das principais influências de Bombino, o veterano grupo Tinariwen possui integrantes que lutaram na Rebelião Tuareg da década de 1990, no Mali. Muitos artistas dessa rica cena de "rock tuareg" usam a música como um instrumento de libertação e expressão política. Bombino, no entanto, nunca pegou em armas e deixa claro em entrevistas que não acredita em soluções através de conflitos. 

"Para mim é importante fornecer ajuda e inspiração ao meu povo através da música em tempos de guerra ou paz", explica Bombino em entrevista ao site Artistxite. "Não vejo minha guitarra como uma arma, mas como um martelo que ajuda a construir a casa do povo Tuareg".

Reconhecimento

A história de Bombino ganhou mais visibilidade quando Dan Auerbach, vocalista e guitarrista do Black Keys, produziu o álbum "Nomad". Na capa, o motociclista cruzando o deserto traduz a experiência da audição. Para nós, leigos no dialeto Tamasheq, ouvir esse disco é como pegar uma carona de olhos fechados.

Não é preciso entender o idioma para ser envolvido pelos temas políticos e melancólicos das canções. É possível identificar os ecos de Mark Knopfler, Jimi Hendrix, J.J. Cale e John Lee Hooker. Imagine todas essas referências na percepção de alguém que cresceu no norte da África e tem a música local no sangue! Dá para notar também uma pontinha do próprio Black Keys, o que naturalmente indica uma forte colaboração de Auerbach ao trabalho.

Discografia recente: "Nomad" foi lançado em 2013 e deu visibilidade a Bombino. "Azel" é aguardado para 1º de abril
Novo álbum será lançado em breve

O próximo passo na carreira de Bombino é "Azel", álbum de estúdio que será lançado no dia 1º de abril. Algumas músicas já foram reveladas, como "Inar (if you know the degree of my love for you)", "Timtar (memories)" e "Akhar zaman (This moment)". Dave Longstreth, assim como Dan Auerbach, se mostra reverente à arte de Bombino, mas novos elementos e ritmos são incorporados. Um deles é o "Tuareggae", a mistura da música Tuareg com reggae. "Timtar (memories)" é o melhor exemplo. 

"As pessoas parecem curtir quando eu toco ["Tuareggae"] ao vivo, então espero que a reação seja a mesma ao ouvir o álbum. É algo realmente novo na música Tuareg, logo é um pouco arriscado", detalha Bombino em entrevista à revista Rolling Stone.


Outras novidades são o uso de alguns vocais com harmonias ocidentais e a participação da cantora Mama "Mahassa" Walet Amoumene, de uma banda Tuareg inteiramente composta por mulheres chamada Tartit.

Após o lançamento de "Azel", Bombino cai na estrada novamente, o que não é nenhuma novidade para esse "nômade global", como ele mesmo se define. O objetivo é promover a paz e a cultura Tuareg, mas sua mensagem se revela ainda mais urgente nos tempos atuais. "Especialmente agora que há muçulmanos refugiados pelo mundo todo é importante que artistas lembrem ao público sobre nossa própria humanidade", reflete o músico. "Como artista Tuareg e ex-refugiado, eu entendo como esse problema é complicado, assim como o racismo e todo tipo de pressão social. Sinto que minha música é mais importante do que nunca".


0 comentários: