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23 de abr. de 2016

Black Sabbath no Grammy Awards 2014 (Foto: Kevork Djansezian/Getty Images)
Não é primeira vez que vemos Black Sabbath e Ozzy Osbourne anunciando despedidas, mas dessa vez não se trata de pura jogada de marketing. A banda britânica está na estrada com a turnê "The End" e se apresenta no Brasil no fim do ano. Os shows acontecem nos dias 30/11 (Curitiba), 02/12 (Rio de Janeiro) e 04/12 (São Paulo). A idade avançada e os problemas de saúde dos músicos reforçam a sensação de que essas três noites serão a oportunidade definitiva para prestigiá-los ao vivo.

Em 2013, o Black Sabbath lançou o álbum de inéditas "13" e fez uma grande turnê. Era a primeira vez que Ozzy Osbourne, Tony Iommi e Geezer Butler se reuniam para um projeto desse tipo desde 1978. Só faltou mesmo a presença de Bill Ward, baterista da formação original, que não chegou a um acordo para participar do retorno. 

Três anos depois, eles estão juntos novamente com a mesma formação para mais shows memoráveis. Se você ainda não viu esses caras ao vivo, junte suas economias e aproveite a oportunidade!

"Never say die!" ou o primeiro fim do Black Sabbath

Já que o Sabbath entrou em clima de despedida, podemos relembrar aqui o álbum que representa um dos tantos "fins" da banda. Seria mais confortável falar dos clássicos "Paranoid", "Masters of reality", "Vol. 4" ou "Sabbath bloody Sabbath", mas que tal seguir o caminho mais espinhoso? Vamos explorar "Never say die!", o derradeiro álbum de estúdio da formação clássica lançado em 28 de setembro de 1978 e solenemente ignorado nas reuniões recentes.

"Never say die!" é normalmente lembrado como o pior álbum do Black Sabbath com Ozzy. Uma crítica recorrente diz que a banda não soa como ela em vários momentos e isso é verdade. Tony Iommi vinha conduzindo algumas experiências com metais, sintetizadores e outros gêneros distantes da proposta do quarteto. O fã daquela época estava, no mínimo, confuso. Por isso mesmo, acho que a melhor forma de ouvir "Never say die!" é fingir que trata-se de outra banda. Novas perspectivas se abrem.

Uma banda sem rumo

As condições para a criação do álbum eram as piores possíveis. Junte brigas entre os músicos, drogas em excesso, processos judiciais envolvendo ex-empresários e crise criativa. Ainda em 1977, Ozzy deixou a banda durante três meses e começou a idealizar seu "voo" solo. Nesse período, Dave Walker assumiu os vocais. Em janeiro do ano seguinte, o cantor adiou seus planos e a banda original voltou a se reunir para gravações em Toronto, no Canadá, sob pressão para entregar um novo material.

"Nós estávamos lá, agendados para gravar em dois dias, e não tínhamos nada, material nenhum. Então entramos num cinema às nove da manhã congelando, e começamos a tentar compor um novo material para gravar à noite. O que era uma piada de mau gosto!", relembra Tony Iommi no livro "Black Sabbath - Destruição desencadeada", de Martin Popoff. 

"Never say die!" é o retrato de uma banda sob pressão. Diante de tantos problemas, o resultado é heroico. Ozzy ainda lidava com a morte recente do pai e não foi tão participativo, mas os demais integrantes deram duro. 

As capas de "Never say die!" e "Difficult to cure", do Rainbow: imagem com médicos foi sugerida ao Black Sabbath
Vencendo as adversidades

Geezer buscou inspiração nas próprias adversidades vividas por todos naquele momento para escrever as novas letras. Temas existencialistas e familiares dão o tom. A faixa-título se vale de imagens sombrias para passar uma mensagem surpreendentemente esperançosa sobre o futuro. "A hard road" segue a mesma linha. "Johnny Blade" fala indiretamente sobre o irmão de Bill. "Junior's eyes" é dedicada a Jack, pai de Ozzy. "Jack nos deu as cruzes originais. Nós o amávamos", lembra Bill no livro de Popoff referindo-se ao adereço que marca o visual da banda. Em "Air dance", a velhice é abordada na história de uma senhora que viaja no tempo para sua juventude dançante.

Musicalmente, Tony Iommi e Bill Ward lideram as experiências mais controversas da história da banda até aquele momento. A pesada faixa-título foi o single de sucesso. "Ela foi bem feita. E chegou às paradas britânicas. Eu me lembro de quando nós chegamos ao título da música, Ozzy e eu estávamos no conservatório em Monmouth. Ele dizia 'morra' e dizia 'nunca'", relembra Bill. Popoff conta em seu livro que os músicos buscavam um título que resumisse os dez anos que a banda completaria em breve.

"Johnny Blade" vem na sequência com uma das introduções mais empolgantes do Sabbath. Ela traz a marca de Don Airey, tecladista que dois anos depois seria reverenciado pela sua contribuição em "Mr. Crowley", grande sucesso de Ozzy em seu primeiro álbum solo, "Blizzard of Ozz".

Black Sabbath em 1978: Bill Ward (bateria e vocal), Ozzy Osbourne (vocal), Geezer Butler (baixo) e Tony Iommi (guitarra)
O ponto crítico de "Never say die!" se concentra nas músicas "Air dance" e "Breakout". A primeira é uma experiência ousadíssima em sintonia com a letra viajante apresentada por Geezer. Ela abre com um tema de guitarra alegre demais para os padrões de Tony Iommi, mas logo se transforma numa levada de jazz com arranjos de baixo e piano que beiram a psicodelia. As quebras de andamento e clima de jam session fazem de "Air dance" um rock progressivo instigante, lembrando um Steely Dan mais chapado.

"Breakout" poderia ser uma música do Blood, Sweat & Tears inserida acidentalmente no álbum do Sabbath. Sem dúvidas ela é a coisa mais aleatória e excêntrica da história da banda, mas nem por isso deixa de ter seu valor. Trata-se de uma curta faixa instrumental recheada de metais pontuada pela guitarra de Tony. Ao chegar no estúdio e ouvir o solo de sax da canção, Ozzy se virou e foi embora.

Na verdade, "Breakout" é a preparação para um verdadeiro clássico perdido do rock setentista: "Swinging the chain". Sem Ozzy nos estúdios, Bill Ward compôs e cantou de forma brilhante a última e melhor música do álbum. Em seu livro, Popoff é preciso ao chamá-lo de "artista secreto da banda". Além de ser um mito da bateria, as colaborações pontuais de Bill nos vocais se tornaram celebradas com o passar do tempo. Seu estilo se aproxima de Ian Anderson, do Jethro Tull, e também pode ser ouvido em "It's alright", do álbum "Technical ecstasy" (1976).

"Swinging the chain" ainda apresenta a melhor guitarra de Tony no álbum. Ela é cortante, sinistra e alinhada à letra sobre o rastro de destruição deixado por Hitler.

O iniciante Van Halen abriu shows do Black Sabbath na turnê de 1978 
Uma curiosidade: a capa do álbum poderia trazer a imagem dos médicos usada anos mais tarde em "Difficult to cure", do Rainbow. A escolha pela alternativa com os dois pilotos de combate só comprova o gosto duvidoso da banda para embalar seus trabalhos. 

Com todos os problemas, o irregular "Never say die!" ainda conseguiu um disco de ouro. A turnê que se seguiu foi um desastre, mas ao menos serviu para apresentar o Van Halen ao mundo como banda de abertura. 

Felizmente, o que parecia o fim do Black Sabbath (para fãs mais radicais de fato é!) se tornou um momento de virada para todos. Ozzy fez história ao lado do guitarrista Randy Rhoads em carreira solo e a banda se reinventou com Ronnie James Dio nos anos seguintes.

Músicas:
1 - Never say die!
2 - Johnny Blade
3 - Junior’s eyes
4 - A hard road
5 - Shock wave
6 - Air dance
7 - Over to you
8 - Breakout
9 - Swinging the chain

Você curte "Never say die!"? Vai aos shows da banda no Brasil? Deixe seu comentário!

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