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23 de abr. de 2016

Black Sabbath no Grammy Awards 2014 (Foto: Kevork Djansezian/Getty Images)
Não é primeira vez que vemos Black Sabbath e Ozzy Osbourne anunciando despedidas, mas dessa vez não se trata de pura jogada de marketing. A banda britânica está na estrada com a turnê "The End" e se apresenta no Brasil no fim do ano. Os shows acontecem nos dias 30/11 (Curitiba), 02/12 (Rio de Janeiro) e 04/12 (São Paulo). A idade avançada e os problemas de saúde dos músicos reforçam a sensação de que essas três noites serão a oportunidade definitiva para prestigiá-los ao vivo.

Em 2013, o Black Sabbath lançou o álbum de inéditas "13" e fez uma grande turnê. Era a primeira vez que Ozzy Osbourne, Tony Iommi e Geezer Butler se reuniam para um projeto desse tipo desde 1978. Só faltou mesmo a presença de Bill Ward, baterista da formação original, que não chegou a um acordo para participar do retorno. 

Três anos depois, eles estão juntos novamente com a mesma formação para mais shows memoráveis. Se você ainda não viu esses caras ao vivo, junte suas economias e aproveite a oportunidade!

"Never say die!" ou o primeiro fim do Black Sabbath

Já que o Sabbath entrou em clima de despedida, podemos relembrar aqui o álbum que representa um dos tantos "fins" da banda. Seria mais confortável falar dos clássicos "Paranoid", "Masters of reality", "Vol. 4" ou "Sabbath bloody Sabbath", mas que tal seguir o caminho mais espinhoso? Vamos explorar "Never say die!", o derradeiro álbum de estúdio da formação clássica lançado em 28 de setembro de 1978 e solenemente ignorado nas reuniões recentes.

"Never say die!" é normalmente lembrado como o pior álbum do Black Sabbath com Ozzy. Uma crítica recorrente diz que a banda não soa como ela em vários momentos e isso é verdade. Tony Iommi vinha conduzindo algumas experiências com metais, sintetizadores e outros gêneros distantes da proposta do quarteto. O fã daquela época estava, no mínimo, confuso. Por isso mesmo, acho que a melhor forma de ouvir "Never say die!" é fingir que trata-se de outra banda. Novas perspectivas se abrem.

Uma banda sem rumo

As condições para a criação do álbum eram as piores possíveis. Junte brigas entre os músicos, drogas em excesso, processos judiciais envolvendo ex-empresários e crise criativa. Ainda em 1977, Ozzy deixou a banda durante três meses e começou a idealizar seu "voo" solo. Nesse período, Dave Walker assumiu os vocais. Em janeiro do ano seguinte, o cantor adiou seus planos e a banda original voltou a se reunir para gravações em Toronto, no Canadá, sob pressão para entregar um novo material.

"Nós estávamos lá, agendados para gravar em dois dias, e não tínhamos nada, material nenhum. Então entramos num cinema às nove da manhã congelando, e começamos a tentar compor um novo material para gravar à noite. O que era uma piada de mau gosto!", relembra Tony Iommi no livro "Black Sabbath - Destruição desencadeada", de Martin Popoff. 

"Never say die!" é o retrato de uma banda sob pressão. Diante de tantos problemas, o resultado é heroico. Ozzy ainda lidava com a morte recente do pai e não foi tão participativo, mas os demais integrantes deram duro. 

As capas de "Never say die!" e "Difficult to cure", do Rainbow: imagem com médicos foi sugerida ao Black Sabbath
Vencendo as adversidades

Geezer buscou inspiração nas próprias adversidades vividas por todos naquele momento para escrever as novas letras. Temas existencialistas e familiares dão o tom. A faixa-título se vale de imagens sombrias para passar uma mensagem surpreendentemente esperançosa sobre o futuro. "A hard road" segue a mesma linha. "Johnny Blade" fala indiretamente sobre o irmão de Bill. "Junior's eyes" é dedicada a Jack, pai de Ozzy. "Jack nos deu as cruzes originais. Nós o amávamos", lembra Bill no livro de Popoff referindo-se ao adereço que marca o visual da banda. Em "Air dance", a velhice é abordada na história de uma senhora que viaja no tempo para sua juventude dançante.

Musicalmente, Tony Iommi e Bill Ward lideram as experiências mais controversas da história da banda até aquele momento. A pesada faixa-título foi o single de sucesso. "Ela foi bem feita. E chegou às paradas britânicas. Eu me lembro de quando nós chegamos ao título da música, Ozzy e eu estávamos no conservatório em Monmouth. Ele dizia 'morra' e dizia 'nunca'", relembra Bill. Popoff conta em seu livro que os músicos buscavam um título que resumisse os dez anos que a banda completaria em breve.

"Johnny Blade" vem na sequência com uma das introduções mais empolgantes do Sabbath. Ela traz a marca de Don Airey, tecladista que dois anos depois seria reverenciado pela sua contribuição em "Mr. Crowley", grande sucesso de Ozzy em seu primeiro álbum solo, "Blizzard of Ozz".

Black Sabbath em 1978: Bill Ward (bateria e vocal), Ozzy Osbourne (vocal), Geezer Butler (baixo) e Tony Iommi (guitarra)
O ponto crítico de "Never say die!" se concentra nas músicas "Air dance" e "Breakout". A primeira é uma experiência ousadíssima em sintonia com a letra viajante apresentada por Geezer. Ela abre com um tema de guitarra alegre demais para os padrões de Tony Iommi, mas logo se transforma numa levada de jazz com arranjos de baixo e piano que beiram a psicodelia. As quebras de andamento e clima de jam session fazem de "Air dance" um rock progressivo instigante, lembrando um Steely Dan mais chapado.

"Breakout" poderia ser uma música do Blood, Sweat & Tears inserida acidentalmente no álbum do Sabbath. Sem dúvidas ela é a coisa mais aleatória e excêntrica da história da banda, mas nem por isso deixa de ter seu valor. Trata-se de uma curta faixa instrumental recheada de metais pontuada pela guitarra de Tony. Ao chegar no estúdio e ouvir o solo de sax da canção, Ozzy se virou e foi embora.

Na verdade, "Breakout" é a preparação para um verdadeiro clássico perdido do rock setentista: "Swinging the chain". Sem Ozzy nos estúdios, Bill Ward compôs e cantou de forma brilhante a última e melhor música do álbum. Em seu livro, Popoff é preciso ao chamá-lo de "artista secreto da banda". Além de ser um mito da bateria, as colaborações pontuais de Bill nos vocais se tornaram celebradas com o passar do tempo. Seu estilo se aproxima de Ian Anderson, do Jethro Tull, e também pode ser ouvido em "It's alright", do álbum "Technical ecstasy" (1976).

"Swinging the chain" ainda apresenta a melhor guitarra de Tony no álbum. Ela é cortante, sinistra e alinhada à letra sobre o rastro de destruição deixado por Hitler.

O iniciante Van Halen abriu shows do Black Sabbath na turnê de 1978 
Uma curiosidade: a capa do álbum poderia trazer a imagem dos médicos usada anos mais tarde em "Difficult to cure", do Rainbow. A escolha pela alternativa com os dois pilotos de combate só comprova o gosto duvidoso da banda para embalar seus trabalhos. 

Com todos os problemas, o irregular "Never say die!" ainda conseguiu um disco de ouro. A turnê que se seguiu foi um desastre, mas ao menos serviu para apresentar o Van Halen ao mundo como banda de abertura. 

Felizmente, o que parecia o fim do Black Sabbath (para fãs mais radicais de fato é!) se tornou um momento de virada para todos. Ozzy fez história ao lado do guitarrista Randy Rhoads em carreira solo e a banda se reinventou com Ronnie James Dio nos anos seguintes.

Músicas:
1 - Never say die!
2 - Johnny Blade
3 - Junior’s eyes
4 - A hard road
5 - Shock wave
6 - Air dance
7 - Over to you
8 - Breakout
9 - Swinging the chain

Você curte "Never say die!"? Vai aos shows da banda no Brasil? Deixe seu comentário!

10 de mar. de 2016

(Foto: Tom Leentjes)
Fui apresentado à música de Bombino através do Julio Andrade, guitarrista, cantor e compositor do The Baggios. Que grande surpresa! Uma busca rápida revela o quanto esse artista da região de Agadez, no Níger, vem se desenvolvendo nos últimos anos.

Seu último álbum de estúdio se chama "Nomad" (2013). Ele foi produzido por Dan Auerbach, do Black Keys, que fez questão de convidá-lo para fazer o registro em seu estúdio em Nashville, nos Estados Unidos. 

A conexão Agadez-Nashville foi um sucesso. Ela ampliou o alcance de Bombino e, nos últimos anos, criou uma grande expectativa pelo próximo trabalho. A boa notícia é que tudo já está pronto: "Azel" será lançado no dia 1º de abril. Dessa vez, a produção ficou sob responsabilidade de Dave Longstreth, do Dirty Projectors.


O "Jimi Hendrix" do deserto

Antes de falar de "Azel", um pouco sobre a história de Bombino torna sua obra ainda mais interessante. Ele nasceu em um acampamento Tuareg, em meio a perseguições do governo do Níger, e viveu boa parte da juventude como refugiado na Argélia e na Líbia. A atmosfera desfavorável não impediu que o jovem pastor de cabras aprendesse a tocar guitarra ouvindo bandas africanas como Tinariwen e Terakaft, que já faziam uma mistura de blues, rock e ritmos tuaregues, além de nomes mais conhecidos do universo pop, como Jimi Hendrix e Mark Knopfler. As influências roqueiras renderam a Bombino apelidos como "Jimi Hendrix do deserto" e "Dick Dale do Saara".

Em 2007, quando já se apresentava profissionalmente e havia retornado ao seu país, precisou se exilar mais uma vez, dessa vez em Burkina Faso. Dois amigos músicos foram mortos por tropas do governo e a guitarra foi proibida por ser considerada um símbolo da Rebelião Tuareg.

Festival Mimo: Bombino se apresentou no Rio de Janeiro, em novembro de 2015 (Foto: Rogério von Kruger/Mimo/Divulgação)
Uma das principais influências de Bombino, o veterano grupo Tinariwen possui integrantes que lutaram na Rebelião Tuareg da década de 1990, no Mali. Muitos artistas dessa rica cena de "rock tuareg" usam a música como um instrumento de libertação e expressão política. Bombino, no entanto, nunca pegou em armas e deixa claro em entrevistas que não acredita em soluções através de conflitos. 

"Para mim é importante fornecer ajuda e inspiração ao meu povo através da música em tempos de guerra ou paz", explica Bombino em entrevista ao site Artistxite. "Não vejo minha guitarra como uma arma, mas como um martelo que ajuda a construir a casa do povo Tuareg".

Reconhecimento

A história de Bombino ganhou mais visibilidade quando Dan Auerbach, vocalista e guitarrista do Black Keys, produziu o álbum "Nomad". Na capa, o motociclista cruzando o deserto traduz a experiência da audição. Para nós, leigos no dialeto Tamasheq, ouvir esse disco é como pegar uma carona de olhos fechados.

Não é preciso entender o idioma para ser envolvido pelos temas políticos e melancólicos das canções. É possível identificar os ecos de Mark Knopfler, Jimi Hendrix, J.J. Cale e John Lee Hooker. Imagine todas essas referências na percepção de alguém que cresceu no norte da África e tem a música local no sangue! Dá para notar também uma pontinha do próprio Black Keys, o que naturalmente indica uma forte colaboração de Auerbach ao trabalho.

Discografia recente: "Nomad" foi lançado em 2013 e deu visibilidade a Bombino. "Azel" é aguardado para 1º de abril
Novo álbum será lançado em breve

O próximo passo na carreira de Bombino é "Azel", álbum de estúdio que será lançado no dia 1º de abril. Algumas músicas já foram reveladas, como "Inar (if you know the degree of my love for you)", "Timtar (memories)" e "Akhar zaman (This moment)". Dave Longstreth, assim como Dan Auerbach, se mostra reverente à arte de Bombino, mas novos elementos e ritmos são incorporados. Um deles é o "Tuareggae", a mistura da música Tuareg com reggae. "Timtar (memories)" é o melhor exemplo. 

"As pessoas parecem curtir quando eu toco ["Tuareggae"] ao vivo, então espero que a reação seja a mesma ao ouvir o álbum. É algo realmente novo na música Tuareg, logo é um pouco arriscado", detalha Bombino em entrevista à revista Rolling Stone.


Outras novidades são o uso de alguns vocais com harmonias ocidentais e a participação da cantora Mama "Mahassa" Walet Amoumene, de uma banda Tuareg inteiramente composta por mulheres chamada Tartit.

Após o lançamento de "Azel", Bombino cai na estrada novamente, o que não é nenhuma novidade para esse "nômade global", como ele mesmo se define. O objetivo é promover a paz e a cultura Tuareg, mas sua mensagem se revela ainda mais urgente nos tempos atuais. "Especialmente agora que há muçulmanos refugiados pelo mundo todo é importante que artistas lembrem ao público sobre nossa própria humanidade", reflete o músico. "Como artista Tuareg e ex-refugiado, eu entendo como esse problema é complicado, assim como o racismo e todo tipo de pressão social. Sinto que minha música é mais importante do que nunca".


23 de fev. de 2016


"Nove luas" é o oitavo álbum de estúdio dos Paralamas do Sucesso. Lançado em abril de 1996, a obra é uma daquelas jóias da música pop que se revelam ainda mais bonitas de perto, com seus sucessos radiofônicos convidando o ouvinte a um mergulho mais profundo. Os 20 anos desse trabalho bem que mereciam uma celebração à altura: uma edição especial em vinil, um show com o repertório na íntegra... Fica aqui a sugestão!

Há duas décadas, os Paralamas viviam um momento crucial. Após dois álbuns brilhantes, mas fracos do ponto de vista comercial ("Os grãos" e "Severino"), ninguém sabia o que esperar de Herbert Vianna, Bi Ribeiro e João Barone. Seria o fim daquela "usina de hits"? Assim como outras bandas importantes que surgiram na década de 1980, o trio viveu uma fase de dúvidas, mas também experimentou sonoridades e desenvolveu um forte laço com a nata do pop rock sul-americano, em especial Charly García e Fito Páez.

A volta às paradas de sucesso aconteceu em 1995, com o álbum ao vivo "Vamo batê lata". O trabalho vendeu em um dia o que "Severino" havia vendido em um ano! Um CD bônus com quatro músicas inéditas emplacou "Uma brasileira", parceria de Herbert e Carlinhos Brown com participação de Djavan, "Saber amar" e "Luís Inácio (300 picaretas)".

Nas palavras de Herbert, a banda buscava naquele momento a simplicidade pop. "Nove luas" foi um claro rompimento com os primeiros anos daquela década. "Os Paralamas vinham negligenciando esse lado [pop] há algum tempo. As músicas de 'Severino', por exemplo, partiam de conceitos. O resultado foram experimentos, não canções", detalhou o compositor em entrevista à Folha de S. Paulo na época do lançamento do álbum. "Ficamos cheios daquilo, queríamos fazer canções de novo. Cansei de trabalhar com computadores, voltei a tocar guitarra. O disco é muito simples. Não tem nada tocado por máquina. São canções que podem ser tocadas no violão", completou.

A tal simplicidade é notável nos arranjos e nas melodias, mas as letras de "Nove luas" são maduras e reflexivas. "Lourinha Bombril" abre o álbum de forma elétrica e questionadora. "A grande vantagem do Brasil é essa mistura da letra. Nada é tipicamente brasileiro", explica Herbert na mesma entrevista. 

Foto da contracapa de "Nove luas" (Crédito: Maurício Valladares)
"Lourinha Bombril" é um ska criado a partir do refrão de "Parate y mira", da banda argentina Los Pericos. A influência latina ainda aparece em "De música ligeira", versão para um sucesso do Soda Stereo. Anos mais tarde, o Capital Inicial também gravaria a canção com nova letra em português.

Com levada de mambo e coro de pastoras, considero "Outra beleza" a música mais estranha do álbum. Ela foi idealizada por Lulu Santos como um samba, mas ganhou contornos latinos na gravação. 

Questionamentos sobre amor, rotina e sentido da vida dão o tom a partir da romântica "La bella luna". As faixas começam a se comunicar sutilmente através de temas comuns ou imagens que remetem aos astros (lua, sol, planeta) e sonhos. 

A regravação de "Capitão de indústria", de Marcos Valle e Paulo Sergio Valle, originalmente tema da novela "Selva de pedra" (1972), alerta para o excesso de trabalho que consome nossas vidas. "Eu não tenho tempo de ter / O tempo livre de ser / De nada ter que fazer", diz a letra. Seremos eternamente gratos aos Paralamas pelo resgate dessa música linda. 

Foi nessa época que Herbert e Paulo Sergio Valle se tornaram amigos e posteriormente escreveriam juntos três músicas: “Se eu não te amasse tanto assim”, “Aonde quer que eu vá” e “Quando você não está aqui”.

"O caminho pisado" reforça o tom crítico de "Capitão de indústria": "Já é hora de vestir o velho paletó / Surrado / E caminhar sobre o caminho pisado / Que conduz rumo à batalha que / Inicia a cada dia / Conseguir um lugar p'rá sentar e / Sonhar na lotação / E é tudo igual, igual, igual..."

Em "Busca vida", temos a música que melhor define o álbum. Ela é a reflexão sobre alguém que deixou de sonhar ("desaprendeu a caminhar no céu") quando foi consumido pelo mundo materialista (dinheiro, contrato, terno e carro), mas quer reencontrar sua essência ao repetir uma estrofe que afirma o desejo de deixar a dor para trás.

Muitos fãs dos Paralamas associam a mensagem de "Busca vida" ao clássico "O pequeno príncipe", de Antoine de Saint-Exupéry. O clipe, eleito o melhor do ano no Video Music Brasil, premiação da MTV, reforça a ideia.



Sobre "Na nossa casa", o crítico musical Jamari França lembra no livro "Paralamas do Sucesso - Vamo batê lata" que Herbert escreveu a canção impactado pela separação dos pais após 30 anos de casado. 

A despedida é a delicada "Um pequeno imprevisto", parceria de Herbert com Thedy Corrêa, cantor e compositor do Nenhum de Nós. O clima de desencanto reflete as mudanças internas que qualquer pessoa se depara na vida adulta.

Com mais de 600 mil cópias vendidas e 20 anos de história, "Nove luas" é um fenômeno difícil de se repetir no cenário atual. A indústria mudou, mas há sobretudo um desinteresse da grande mídia e do próprio público pelo pop de qualidade. Falamos aqui de poesia, existencialismo, diversidade cultural e desejo de libertação em canções que estão na memória afetiva de milhares de fãs. É possível apontar algo parecido produzido recentemente com impacto semelhante? Por isso vale aproveitar cada data marcante para celebrar a obra de Herbert, Bi e João. Vida longa aos Paralamas do Sucesso!

Músicas:
Lourinha Bombril(parate y mira) (Diego Blanco / Bahiano - versão: Herbert Vianna)
Outra beleza (Herbert Vianna / Lulu Santos)
La bella luna (Herbert Vianna)
De música ligeira(De Musica Ligera) (G. Cerati / Bosio - versão: Herbert Vianna)
Capitão de indústria
O caminho pisado (Herbert Vianna)
Busca vida (Herbert Vianna)
Caroço da cabeça (Herbert Vianna / Nando Reis / Marcelo Fromer)
Sempre te quis (Herbert Vianna)
Seja você (Herbert Vianna)
Na nossa casa (Herbert Vianna)
Um pequeno imprevisto (Herbert Vianna / Thedy Corrêa)

Produção: Carlos Savalla e Paralamas do Sucesso.
A imagem da capa é um quadro de Pedro Ribeiro, irmão de Bi.

16 de fev. de 2016

The Baggios na Virada Cultural Paulista (foto: Snapic)
Quem ainda não ouviu The Baggios está marcando bobeira. Com pouco mais de 10 anos de carreira, os sergipanos fazem o melhor rock'n'roll do Brasil. O reconhecimento de público e crítica vem crescendo nos últimos anos e a prova disso são as conquistas recentes do duo independente formado por Julio Andrade (voz e guitarra) e Gabriel Carvalho (bateria). Em 2013, o álbum "Sina" foi eleito um dos melhores do ano pela revista Rolling Stone. No fim de 2015, a primeira turnê internacional abriu horizontes e rendeu uma parceria a ser lançada nos próximos dias com a banda mexicana Los Daniels. O próximo passo é um show no festival Lollapalooza, dia 12 de março, em São Paulo. E vem mais por aí.

Julio e Gabriel estão em estúdio com o parceiro Rafael Ramos, da Coutto Orchestra, gravando o terceiro álbum de músicas inéditas da Baggios. Oficialmente, a banda não virou um trio, mas a atuação contínua de Rafael tocando órgão e baixo sintetizado nas gravações e shows permite novas experiências. "Isso está criando uma amplitude maior de possibilidades de arranjos de guitarra, bateria e linhas vocais", explica Julio. "Estou mais livre pra criar arranjos menos crus. Vai ficar rock, mas com arranjos mais complexos", detalha.

Os fãs que gostaram do ar conceitual de "Sina" podem ficar animados. O trabalho se aprofundará nesse sentido, conservando uma unidade entre as canções e apresentando histórias inspiradas em temas universais. "Ele vai se passar numa cidade fictícia com vários problemas que a gente sofre em nossas vidas. É o cotidiano do mundo contemporâneo", releva Julio. 

O álbum será lançado no primeiro semestre deste ano, mas as músicas novas já podem ser ouvidas nos shows. O Lollapalooza será a principal vitrine, mas não faltam oportunidades para ver a banda de perto. Uma delas é o festival Rio Novo Rock, que acontecerá no dia 3 de março, no Imperator, tradicional casa do Rio de Janeiro que vem prestigiando a cena roqueira. 

Julio não esconde a animação. "É uma iniciativa muito boa porque leva ao Rio bandas que estão circulando nacionalmente, mas também bota as bandas locais pra fazer um intercâmbio". 

A sequência de 2016 é mesmo animadora. Os shows que a banda fez no México no ano passado podem se repetir no segundo semestre. Foi por lá que eles também receberam convites para se apresentar no Chile e Colômbia. Haja fôlego! 

A entrevista completa que fiz com Julio Andrade está logo abaixo.

The Baggios ao vivo no Teatro Tobias Barreto, Aracaju (divulgação)
PH: Lembro da sua felicidade ao anunciar o show da Baggios no Lollapalooza. Preparado para fazer uma apresentação antológica?

Julio: A notícia pegou a gente de surpresa, ficamos muito felizes. Ficamos preocupados cuidando do que a gente poderia apresentar no show, já que estávamos compondo músicas novas e estudando o formato da banda com baixo e órgão. 

PH: O público vai ouvir músicas novas?

Julio: A gente vai usar essas músicas novas que estamos ensaiado pro próximo álbum. Possivelmente, a gente vai montar o set baseado no DVD de 10 anos ("10 anos depois" - 2015), que tem músicas de todas as fases da banda, mas também estrear esse formato em trio com um músico convidado, que é o Rafael Ramos, da Coutto Orchestra. Ele vai acompanhar alguns shows, inclusive no Rio. A gente vai fazer metade do show no formato duo e outra metade em trio com músicas novas.

PH: A turnê que vocês fizeram no México rendeu uma colaboração com a banda Los Daniels e vários comentários positivos. Qual foi a lição da experiência no exterior?

Julio: A primeira turnê fora do país foi uma experiência forte. Fomos muito bem recebidos pelos mexicanos e pudemos conhecer a cultura deles. Eu já estava criando uma expectativa, mas o país me surpreendeu ainda mais. O público tem uma identidade forte com a música brasileira. A gente tem uma pegada rock, mas também tem muito da música brasileira. E percebi que a galera dá muito valor à língua portuguesa. Eu vi muitas pessoas tentando falar português. Isso já é uma demonstração de respeito. Essa colaboração com o Los Daniels foi muito boa porque eles já têm um público forte no México, mas lá eu pude conhecer outras bandas boas também.

PH: Teremos mais turnês internacionais neste ano?

Julio: Esse pontapé criou mais expectativa para novos shows, rendeu convites para voltar ao México e pra tocar na Colômbia e no Chile. Então a gente está programando o disco pro primeiro semestre, mas, possivelmente, no próximo semestre, voltaremos a fazer shows no exterior.

PH: Quando sai o single com o Los Daniels?

Julio: A gente está em fase de mixagem desse material. Devemos lançar antes mesmo do Lollapalooza. 



PH: E falando em experiências, já li que a banda pretende explorar novos sons no próximo álbum de estúdio. Que pistas você pode revelar aos fãs? 

Julio: A gente está num processo de experimentos. Já ensaiamos quase 30 músicas novas, estamos refinando pra escolher a metade delas e entrar no estúdio com essa definição. Começamos a compor em duo e agora estamos com o Rafael fazendo baixo sintetizado e órgão. Isso está criando uma amplitude maior de possibilidades de arranjos de guitarra, bateria, linhas vocais... Acho que o disco vai trazer mais novidades do que a passagem do primeiro álbum pro segundo, saca? Vai ter um elemento mais firme na banda que é o órgão e o baixo. Estou mais livre na guitarra pra poder criar arranjos menos crus. Vai ficar rock, mas com arranjos mais complexos se comparado aos outros trabalhos. 

PH: São Cristóvão continua sendo sua maior fonte de inspiração?

Julio: São Cristóvão é uma inspiração, mas nesse disco não será de forma tão direta porque eu estou abrangendo um tema que é muito universal. A gente está criando o conceito do álbum. Ele vai se passar numa cidade fictícia com vários problemas que a gente sofre em nossas vidas mesmo. É o cotidiano do mundo contemporâneo. Em São Cristóvão eu presenciei algumas situações, mas eu acabei me sensibilizando também com coisas que aconteceram no mundo todo. 

PH: A banda vai virar definitivamente um trio?

Julio: A banda não será oficialmente um trio, ela continuará sendo eu e o Gabriel, mas, nessa nova fase, estaremos com um músico, que pode ser o Rafael em alguns shows, mas pode ser outro convidado. Queremos manter firme um músico pra não mudar muito. A gente está compondo e ensaiando com o Rafael, então creio que a gente vai manter a banda sempre nesse formato de guitarra, bateria, baixo e órgão.

PH: Que sons você anda ouvindo nos últimos tempos? Algum artista contemporâneo ou das antigas vem exercendo alguma influência nessa nova leva de composições?

Julio: Eu tenho ouvido muitas coisas brasileiras nos últimos anos. Entre "Sina" e esse novo álbum são quase três anos de intervalo. Ando ouvindo Arnaud Rodrigues, Alceu Valença, Paulo Diniz, Zé Ramalho, Sá, Rodrix e Guarabyra, coisas clássicas. Acabei também pesquisando coisas gringas que passei a estudar como Santana e artistas latinos como o argentino Luis Spinetta. Ele teve uma banda chamada Pescado Rabioso que me identifiquei muito, com uma onda próxima do que era feito no Brasil nos anos 70, aquele rock mais pesado. Outro guitarrista que pirei é o Bombino, que é de Niger, numa região perto do deserto do Saara. Ele é conhecido mundialmente como o Jimi Hendrix do deserto e é um dos caras que mais me surpreendeu em termos de guitarra. Outras bandas que descobri há pouco tempo e curto muito são o White Denim e Syd Arthur. Tem Buffalo Killers, Daniel Norgren, com uma pegada mais country e jazz... Esses caras me influenciam pra compor coisas novas. Sempre tenho um pé lá nos clássicos misturado com essas coisas novas.

PH: A Baggios faz show no festival Rio Novo Rock, no começo de março. Já conhece o Imperator? A cena rock da cidade vem se fortalecendo nos últimos anos...

Julio: Não conheço o Imperator, mas sei que é um lugar lendário que já recebeu shows grandes. Tô muito empolgado porque vai ser a maior apresentação que a gente vai fazer no Rio depois de tocar em casas de pequeno porte, como o Audio Rebel e o Saloon. Vamos chegar na cidade com álbum e formato de show novos. No ano passado não fomos à cidade, mas isso é legal porque cria uma distância de tempo pra galera ficar com saudade do show. Esse evento é uma iniciativa muito boa porque leva ao Rio bandas que estão circulando nacionalmente, mas também bota as bandas locais pra fazer um intercâmbio, muito bom!

11 de fev. de 2016

Serge Gainsbourg é um dos meus artistas favoritos. Acho maravilhosa sua trajetória errática e pontuada por momentos brilhantes. Sem falar daquela sensualidade quase onipresente que vai muito além do clichê "Je t'aime moi non plus". 

Por causa dessas características, a discografia do francês é uma fonte inesgotável. Cada audição revela uma sacada genial, uma provocação ou as duas coisas ao mesmo tempo. Poderíamos relembrar aqui "Histoire de Melody Nelson", o álbum mais influente e "sério" de Serge, mas quero falar do controverso "Love on the beat", lançado em outubro de 1984. 

De cara, temos Serge Gainsbourg maquiado como uma drag queen na capa. Ele dizia que parou de beber por duas semanas só para diminuir as olheiras e conseguir a foto icônica que dá pistas sobre temas centrais do álbum: sexo, homossexualidade e prostituição.  

Achou pesado? Sim, "Love on the beat" é sexualmente explícito, raivoso, um escândalo que só poderia mesmo vir de Serge. Foi seu primeiro álbum gravado nos Estados Unidos, mais precisamente em Nova York, e ele estava visivelmente influenciado pela cidade. O livro "Um punhado de Gitanes", de Sylvie Simmons, traz algumas declarações do compositor sobre o período. "A música de Nova York é pesada, então tenho que me adaptar", explicou. "Os jovens não têm mais medo das palavras, nem das ideias. Tenho que me adaptar, é uma necessidade intelectual".

Serge também não tinha medo das palavras. Aliás, foi sua habilidade de brincar com elas que lhe rendeu o reconhecimento de estudiosos da língua francesa. No título do álbum temos um trocadilho que revela o espírito das canções. A palavra "beat" soa como "bite", pênis em francês.



Musicalmente, o trabalho não traz grandes inovações, mas apresenta uma mudança radical na carreira de Serge, que vinha de uma bem sucedida incursão pelo reggae, ou "freggae", como os franceses chamam o ritmo jamaicano produzido no país. O som é uma mistura de funk, rock e eletrônico com teclados e saxofone conduzindo a maioria das faixas. Tudo em sintonia com a proposta urbana e suja das letras.

A produção de "Love on the beat" ficaria a cargo de Nile Rodgers, mas uma incompatibilidade de agenda não permitiu o encontro. Billy Rush, que havia trabalhado com o guitarrista do Chic, encarou a missão.

A faixa-título é o cartão de visitas: desbocada, dançante e agressiva. O clima é de sexo selvagem, com Bambou, última companheira de Serge, gritando de prazer (e dor?) ao fundo. Seria "Love on the beat" uma "Je t'aime moi non plus" ainda mais explícita? Como diz um blog que li antes de escrever este texto, são oito minutos para rivalizar com Marquês de Sade!

Entre as músicas que tratam sobre homossexualidade estão "Kiss me, Hardy" e "I'm the boy". A primeira é baseada nas últimas palavras do almirante britânico Horatio Nelson, lembrado nos livros de história pelas vitórias contra Napoleão Bonaparte. Ele teria dito "Beije-me, Hardy", em tom de ordem militar, para o fiel assistente Thomas Hardy. 



"I'm the boy" insinua que o personagem da música é um jovem gay que se prostitui. A melodia é inspirada na composição erudita "A sagração da primavera", de Igor Stravinsky.

A referência erudita também aparece em "Lemon incest", com trechos de "Estudo Opus 10, nº. 3", de Frédéric Chopin.

Misturar erudito e popular não é novidade, mas há uma ousadia evidente nas duas faixas. Os mais puritanos não devem gostar de ouvir seus compositores prediletos embalados naquela atmosfera tão profana... Em 1984, Serge Gainsbourg ainda era um provocador nato. De quebra, arrisco dizer que ele inspirou a disseminação dos samples na música pop. 

"Lemon incest", no entanto, é mais conhecida pelo escândalo que causou na época. Serge canta com sua filha Charlotte Gainsbourg, de 13 anos. No clipe, eles dividem uma cama, mas o suposto incesto é negado no verso "L'amour que nous n'f'rons jamais ensemble" ("O amor que nunca faremos junto"). Precisa dizer o problemão que isso rendeu?


"Ele não resistiu a fazer uma canção de amor para Charlotte, para exibi-la ao mundo, além de fazer um trocadilho com lemon zest [raspas de limão], ao som de música clássica. É claro que ele sabia que estava provocando, mas ficou horrorizado que as pessoas pudessem pensar que..." - Jane Birkin, ex-esposa de Serge e mãe de Charlotte, nem consegue completar a declaração que está no livro de Simmons.

"Sorry angel" é misteriosa e triste. Ela fala sobre suicídio e culpa em levada hipnótica. Curiosamente, ela vem logo depois de "Love on the beat", faixa violenta que só rivaliza com "Harley David son of a bitch", um rock vazio mas de refrão forte.

"Love on the beat" não é o melhor álbum de Serge Gainsbourg - a produção dos anos 60 e 70 é insuperável! - mas, de forma conceitual e ousada, entrega o que promete na própria letra da faixa-título: um choque de 6 mil volts!

Músicas:
"Love on the beat"
"Sorry angel"
"Hmm hmm hmm"
"Kiss me Hardy"
"No comment"
"I'm the boy"
"Harley David son of a bitch"
"Lemon Incest" (com Charlotte Gainsbourg)

22 de jul. de 2014


Para falar sobre "Nheengatu" (Som Livre, 2014), o décimo quarto álbum dos Titãs, é preciso voltar um pouco no tempo. Em 2012, a banda celebrou os 30 anos de "Cabeça Dinossauro" com a formação mais enxuta de sua história. Branco Mello, Paulo Miklos, Sérgio Britto e Tony Bellotto, com o auxílio do baterista Mario Fabre, fizeram uma bem sucedida turnê que inegavelmente serviu de inspiração para o novo trabalho de estúdio.

O problema é que o resultado do entrosamento adquirido no palco não rende o esperado. As novas músicas soam como cópias meio desbotadas de conceitos que já foram brilhantemente explorados em "Cabeça dinossauro" (1986) e "Titonamaquia" (1993). Até as ideias que parecem boas se perdem na sensação geral de déjà vu.

Quer um exemplo? Vamos ao nome do álbum. Como a própria banda explica no vídeo abaixo, "Nheengatu" é uma língua geral criada pelos jesuítas para se comunicar com as várias tribos indígenas que existiam no Brasil. Ela se relaciona diretamente com a capa do disco, a "Torre de Babel", de Pieter Bruegel.

A sacada é legal, mas é simplesmente impossível não lembrar que os Titãs também se inspiraram na obra de um pintor - no caso Leonardo Da Vinci - para criar a capa de "Cabeça dinossauro". E qual era a inspiração da faixa título? Índios!



O álbum abre com "Fardado", música que recicla sem o menor pudor "Polícia". A releitura temática não é nada espontânea, porém é um pouco mais profunda e faz uma crítica direta aos abusos policiais vistos nos recentes protestos que rolaram pelo Brasil.

"Senhor" é praticamente uma nova versão de "Igreja" que tem a assinatura de Tony Bellotto em vez de Nando Reis.

Invariavelmente, temas espinhosos são abordados nas músicas. Violência contra a mulher, racismo, homofobia, pobreza, pessimismo e até pedofilia são enfileirados em "Nheengatu". Apesar de haverem bons momentos, como "Mensageiro da desgraça", "Cadáver sobre cadáver" e "Chegada ao Brasil (terra à vista)", tudo soa excessivamente calculado. Um bom exemplo é "Pedofilia". A banda assume que se viu desafiada a escrever sobre o tema porque é um tabu e o trabalho já tomava essa direção conceitual pesada. Essa é, no entanto, a letra mais fraca do disco.



Se as letras remetem essencialmente ao clássico "Cabeça dinossauro", a parte instrumental se apoia no peso e crueza quase minimalista do controverso "Titanomaquia". Rafael Ramos, o produtor de "Nheengatu", é reverente a Jack Endino, o americano que colaborou para a consolidação da cena grunge e que injetou ainda mais rebeldia na banda paulista em 1993.

Em resumo, "Nheengatu" me lembra um pouco a música "Nem sempre se pode ser deus", também do álbum "Titanomaquia". É o retrato de uma banda que está dizendo, ou melhor, gritando para quem quiser ouvir: "Não é que eu vá fazer igual / Eu fazer pior".


Foto: divulgação

1 de mar. de 2014

Taí uma onda que gosto demais. Sei que existe um tremendo hype em torno de bandas como o Broken Bells, tudo é muito "muderno", mas não dá para deixar de abrir um sorriso ao som de músicas como "The high road" ou, mais recentemente, "Holding on for life".

Vamos do começo: o Broken Bells é uma dupla americana formada por Brian Burton, mais conhecido como Danger Mouse, e James Mercer, cantor e compositor da banda The Shins. Danger Mouse ficou conhecido mundialmente pela parceria com Cee-Lo Green no Gnarls Barkley (aquele do hit "Crazy") e se tornou um requisitado produtor que já trabalhou com Beck, Gorillaz e Black Keys. Atualmente, ele produz o próximo álbum do U2. A frente do Shins, James Mercer é considerado um respeitado melodista do cenário indie, com influências que vão do R.E.M. ao bom e velho Beach Boys.

Em 2004, durante o festival Rockilde, realizado na Dinamarca, eles descobriram que eram fã um do outro. A parceria, no entanto, só ganhou forma a partir de 2008. Após alguns singles e um EP, veio o primeiro álbum: "Broken Bells", lançado em 2010. O segundo trabalho da dupla saiu em fevereiro deste ano e se chama "After the disco".

Em linhas gerais, o som dos dois discos pode ser definido como um "space rock". Algo meio futurista, carregado nos sintetizadores e programações eletrônicas, mas pontuado por violões e grandes melodias. É o típico clima "viajante", que leva o pensamento do ouvinte para longe. Na minha playlist pessoal, ele se mistura com TV On the Radio, Apples In Stereo, Toro y Moi, Air e até Black Seeds, banda de reggae classuda que também frequenta outras galáxias sonoras.


A colaboração de Mercer no Broken Bells é mais previsível. O tom melancólico, os falsetes e as letras filosóficas lembram, por exemplo, "Port of Morrow", ótimo e recente trabalho de estúdio do Shins. Danger Mouse, por sua vez, é mais surpreendente. Com tanta diversidade no currículo, incluindo o polêmico "The Grey Album", um mashup de Beatles e o rapper Jay-Z, dá para esperar qualquer coisa de sua mente. 

"After the disco", como o próprio nome indica, é mais dançante que "Broken Bells". Ao contrário do álbum anterior, dá para notar uma discreta ambição comercial. Neil McCormick, do jornal britânico The Telegraph, chega a comparar o estilo vocal de Mercer com o trio Bee Gees. Ainda que o resultado seja bem diferente, ele também aproxima a pegada retrô-futurista da dupla com o premiado álbum "Random access memories", do Daft Punk. O recado fica claro em músicas como "Perfect world", "After the disco", "Holding on for life" e "Medicine". 

Pode ser impressão minha, mas considero o álbum "Broken Bells" ligeiramente mais "espacial" que seu sucessor. Há mais passagens calmas e instrumentais. E claro, tem "The high road", uma linda canção noturna de estrada. Fiquem com esse som!

2 de fev. de 2014

Impossível não ir do entusiasmo à decepção com a notícia da volta do Ira!. Edgard Scandurra e Nasi retornam aos palcos com o nome da banda para uma série de 200 shows, a começar no dia 18 de maio, na Virada Cultural de São Paulo. O problema é que o baixista Gaspa e o baterista André Jung, integrantes da formação clássica, não toparam participar da reunião.

Para quem não lembra, o Ira! foi dissolvido em 2007 após uma briga feia entre seus membros.

“Acho que quando uma pessoa se coloca em uma posição francamente de ser seu inimigo, o que você tem a dizer ou fazer? Eu tenho que me proteger. Então essa é a circunstância, que não sou só eu que vivo”, disse André Jung à Billboard Brasil em 2012. “O Edgard vive uma circunstância parecida, então... É muito difícil restaurar uma coisa que foi estilhaçada com tamanha violência. Os cacos voaram muito longe”, completou.

No ano passado, Edgard e Nasi se reaproximaram para fazer um pequeno show beneficente na Escola Novo Ângulo Novo Esquema, que atende crianças com dificuldades de aprendizagem, em São Paulo. A grande repercussão certamente deu força à ideia de fazer um troco com shows pelo Brasil.

"O Ira! não acabou por crise profissional, tínhamos agenda lotada, contrato com uma grande gravadora. Acabamos por conflitos. O objetivo é fazer uma turnê de reconciliação com a gente e com o público. Conversamos sobre mudanças na nossa conduta pessoal, no comportamento e concluímos que precisamos deixar o passado para trás. Ao fim é que vamos saber se vai sair um disco novo ou algum projeto", detalhou Nasi em entrevista ao jornal O Globo.

A nova turnê do Ira! se chamará acertadamente "Núcleo Base". Parece provocação, né? O nome não apenas remete à clássica música, mas recorda o fato de Scandurra e Nasi serem os fundadores originais da banda.

Polêmicas à parte, não dá para ser indiferente a um show que reúne dois ícones do rock nacional tocando clássicos do Ira!.

Como diz aquele disco de Frank Zappa, provavelmente eles estão nisso só pelo dinheiro, mas quem liga? Desde que o rock é rock é assim... Eu gostaria de ver esse reencontro de perto! E você?

A trilha sonora desse post é "Farto do rock'n'roll", do mais que essencial álbum "Psicoacústica" (1988). Peso, provocação, ironia, tudo que o rock pode oferecer de melhor reunidos em uma faixa!