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22 de jul. de 2014


Para falar sobre "Nheengatu" (Som Livre, 2014), o décimo quarto álbum dos Titãs, é preciso voltar um pouco no tempo. Em 2012, a banda celebrou os 30 anos de "Cabeça Dinossauro" com a formação mais enxuta de sua história. Branco Mello, Paulo Miklos, Sérgio Britto e Tony Bellotto, com o auxílio do baterista Mario Fabre, fizeram uma bem sucedida turnê que inegavelmente serviu de inspiração para o novo trabalho de estúdio.

O problema é que o resultado do entrosamento adquirido no palco não rende o esperado. As novas músicas soam como cópias meio desbotadas de conceitos que já foram brilhantemente explorados em "Cabeça dinossauro" (1986) e "Titonamaquia" (1993). Até as ideias que parecem boas se perdem na sensação geral de déjà vu.

Quer um exemplo? Vamos ao nome do álbum. Como a própria banda explica no vídeo abaixo, "Nheengatu" é uma língua geral criada pelos jesuítas para se comunicar com as várias tribos indígenas que existiam no Brasil. Ela se relaciona diretamente com a capa do disco, a "Torre de Babel", de Pieter Bruegel.

A sacada é legal, mas é simplesmente impossível não lembrar que os Titãs também se inspiraram na obra de um pintor - no caso Leonardo Da Vinci - para criar a capa de "Cabeça dinossauro". E qual era a inspiração da faixa título? Índios!



O álbum abre com "Fardado", música que recicla sem o menor pudor "Polícia". A releitura temática não é nada espontânea, porém é um pouco mais profunda e faz uma crítica direta aos abusos policiais vistos nos recentes protestos que rolaram pelo Brasil.

"Senhor" é praticamente uma nova versão de "Igreja" que tem a assinatura de Tony Bellotto em vez de Nando Reis.

Invariavelmente, temas espinhosos são abordados nas músicas. Violência contra a mulher, racismo, homofobia, pobreza, pessimismo e até pedofilia são enfileirados em "Nheengatu". Apesar de haverem bons momentos, como "Mensageiro da desgraça", "Cadáver sobre cadáver" e "Chegada ao Brasil (terra à vista)", tudo soa excessivamente calculado. Um bom exemplo é "Pedofilia". A banda assume que se viu desafiada a escrever sobre o tema porque é um tabu e o trabalho já tomava essa direção conceitual pesada. Essa é, no entanto, a letra mais fraca do disco.



Se as letras remetem essencialmente ao clássico "Cabeça dinossauro", a parte instrumental se apoia no peso e crueza quase minimalista do controverso "Titanomaquia". Rafael Ramos, o produtor de "Nheengatu", é reverente a Jack Endino, o americano que colaborou para a consolidação da cena grunge e que injetou ainda mais rebeldia na banda paulista em 1993.

Em resumo, "Nheengatu" me lembra um pouco a música "Nem sempre se pode ser deus", também do álbum "Titanomaquia". É o retrato de uma banda que está dizendo, ou melhor, gritando para quem quiser ouvir: "Não é que eu vá fazer igual / Eu fazer pior".


Foto: divulgação

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