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27 de mai. de 2013

O tal revival dos discos de vinil me pegou de jeito. Não que eu tenha presenciado a glória das bolachas e esteja agora reencontrando o passado. Sou filho dos oitenta, cresci nos noventa, peguei a popularização do CD e, no máximo, vi o fim de carreira daqueles espaçosos discões: parentes e vizinhos vendendo lotes por mixarias ou reduzindo-os a entulho nas lixeiras de suas casas.

Não vivi a época do vinil, mas sempre curti música. Mais do que isso, sempre gostei do ritual de ouvir música. Ficar no quarto escutando um álbum inteirinho enquanto se desfolha o encarte para descobrir aquele artista convidado ou o verso mais arrebatador é uma experiência reveladora. Nesse tempo, pode-se também arrumar a bagunça da estante, dedilhar no violão a música que está tocando, arriscar uma dancinha e, claro, dividir o momento com amigos. O vinil ressurge firme e forte para pessoas que valorizam esse ritual. Ele traz beleza, disciplina e dramaticidade à audição.  

A beleza é óbvia. Ela está, em primeiro lugar, na capa, imponente, parecendo um quadro, um manifesto, um tapa na cara. Cada um interpreta do seu jeito, mas não passa batido. Há ainda o som, tema tão polêmico entre audiófilos que prefiro nem me meter porque não sou técnico no assunto. Gosto quando dizem que o vinil é "quente". Parece abstrato, mas é só fechar os olhos, abrir os ouvidos e sentir. Não sei dizer se é melhor ou pior, mas o adjetivo me parece perfeito para definir música de qualidade. 

A disciplina está na atenção que o vinil exige. De tanto limpar e manusear o objeto com certo cuidado, valoriza-se o momento de escutá-lo. E outra: não é prático pular faixas e é chato virar do lado A para o B. Então que tal aproveitar cada minuto com toda calma do mundo? Vai que você descobre algo surpreendente naquela música que você não curtia há uns anos? 

Para encerrar, temos a dramaticidade do sobe e desce da agulha, do levíssimo chiadinho no som e daquela sensação de que tudo pode se perder num movimento brusco, numa sujeirinha ou numa peça desregulada do toca-discos. Fico torcendo para que tudo dê certo da primeira à última música.

O melhor é que o entusiasmo pelo vinil anda lado a lado com as virtudes de outras mídias. Comprar um bolachão é recomendado para quem gosta de apreciar música por completo e, certamente, estamos redescobrindo um prazer pra lá de paradoxal diante da agitação dos dias atuais. Mas o que dizer dos "poderes mágicos" do shuffle do iPod durante aquela corridinha na academia? E o romantismo das velhas mixtapes que ressurgem nos K7s em pleno século 21? No fundo, a música é um bicho invisível que se adapta a qualquer estado de espírito. Só escolhemos o formato predileto. Eu fico com o vinil. E você?



Zé Rodrix, um gênio da nossa música ainda longe de ter o reconhecimento que merece, escreveu uma das músicas mais bonitas que conheço sobre a devoção por um bom disco e todos os sentimentos que ele pode despertar. Essa é a trilha sonora do dia!
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