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3 de ago. de 2013

Antes de se apresentar no auditório da Globo FM para celebrar os 40 anos da rádio, Leoni bateu um papo comigo sobre carreira, os rumos da música pop e as recentes manifestações que movimentam a sociedade brasileira. Como indica seu perfil no Twitter (@Leoni_a_jato), o cantor e compositor demonstra ainda ter a mente inquieta e a criatividade em ritmo acelerado. A entrevista completa está aqui no Jazz potatoes e no site da Globo FM.

Ao longo da carreira você já experimentou vários tipos de show, mas o formato voz e violão é uma marca muito pessoal. É mais complicado ou mais prazeroso fazer um show cara a cara com os fãs?

Depende. Eu passei cinco ou seis anos fazendo um show com violão, guitarra e voz e em outros momentos só com violão e voz. Eu chamo isso de "Formato Crise", mas não tem a ver com crise econômica. O fato de eu estar sozinho significa que o show está em risco, mas é bacana porque tem uma interação com o público. Cada show com violão e voz é muito diferente do outro. É um show que teoricamente seria muito parecido, mas, por ser apenas eu, cada dia é muito diferente e depende do público. Eu gosto bastante de fazer, mas é mais arriscado mesmo porque você tem que estar focado para saber o que as pessoas estão sentindo.

É um show que também reflete o seu momento?

É sim e tem muito a ver com as composições. Como eu sou basicamente compositor, quando eu faço violão e voz, as pessoas ouvem a canção como ela surgiu. Quando eu fiz o álbum "Áudio retrato", muita gente veio dizer que nunca tinha reparado em algumas letras. "Lágrimas e chuva", por exemplo, é quase um bilhete suicida, mas, no arranjo original para banda, era muito dançante.

Você já gravou e compôs várias músicas com grandes nomes da sua geração e até de gerações mais novas, como o Móveis Coloniais de Acaju.  Hoje você tem interesse em alguma nova cena musical em especial? Tem admiração por alguém a ponto de imaginar uma nova parceria? 

Eu sou um parceiro bastante volúvel. Eu tenho muito parceiros e troco o tempo todo. Alguns eu repito com certa frequência. Há pouco tempo eu fiz uma música com o Ivan Lins, que é uma pessoa que nunca tinha pensado em fazer música, quer dizer, nunca pensei que ele fosse pensar em mim algum dia. Fiz música com o Teatro Mágico e Moska no meu último EP. Me sinto revigorado fazendo música com pessoas diferentes. Tenho muita vontade de fazer com as pessoas que admiro, como Erasmo, Roberto... Essas pessoas que ajudaram a formar minha noção do que é uma boa canção. Mas também tenho vontade de experimentar com pessoas novas que trazem outra abordagem diferente de quem passou pela indústria. Essa indústria meio que acabou nos últimos anos. Agora você não tem mais o diretor artístico para dizer o que está tocando no rádio. Os artistas que vêm agora não estão adequados porque não precisam estar. Então eles têm outras ideias que acho inspiradoras. Me sinto mais jovem participando disso. Tem o pessoal do Passo Torto, o [Marcelo] Jeneci também é muito bacana para compor junto... Imagino que ainda tenho muitos parceiros para agregar à minha vasta coleção.

E a diversidade da música brasileira atual é impressionante...

E você não precisa mais estar no eixo Rio-São Paulo. Qualquer lugar do Brasil que você for vai ter uma cena bacana de artistas que não precisam mais sair de suas cidades. Eles trazem informações locais que tornam tudo menos pasteurizado. Eu fico meio chateado quando perguntam por que não se faz mais música como antes... Antigamente também era legal, mas acho que a música nunca foi tão farta de estilos e tão rica como hoje em dia. É difícil as pessoas conhecerem porque não toca tudo na rádio e na televisão. É muita gente fazendo música. Para chamar a atenção não é fácil.

São dois mundos ainda distantes que podem se unir? O primeiro de pessoas que ainda se identificam com meios tradicionais e outro completamente imerso na internet e buscando algo diferente?

É difícil falar do futuro porque nesses tempos de mudanças muito rápidas a gente dá chute e erra com frequência, mas eu não acredito na separação. Acho que a tendência é a fusão. As pessoas ainda têm como referência cultural os grandes meios de comunicação, especialmente aqui no Brasil. É diferente até de outros países. Mas acho que isso tende a se misturar e perder essa relevância tão grande. Ao mesmo tempo, as pessoas precisam de referenciais para alguém dar uma luz.

Você já virou referência na internet quando se fala em ações inovadoras. Ideias como tocar com fãs ou lançar uma música por mês podem ser retomadas? Vem algo novo por aí?

A última coisa que aconteceu no site foi o concurso de arranjos. Teve a votação com dois arranjos escolhidos pelo público e outros dois escolhidos por mim. Agora eu vou lançar um EP digital com as versões das músicas. Apareceu muito coisa legal.



Recentemente você lançou a música "As coisas não caem do céu", um verdadeiro “tapa na cara” de quem só reclama e não faz nada para mudar o mundo. Como foi a reação em relação a essa música? Você tem tocado ela nos shows?

Eu tenho um show chamado "Como mudar o mundo", que estreou em março, e foi aí que lancei essa música. Ela veio bem antes dos protestos. A minha aflição era ver no Facebook as pessoas reclamando da vida e não fazendo nada. E reclamar não adianta. Eu sempre me envolvi em questões políticas e algumas questões sociais. Teve uma situação emblemática: quando fiz 50 anos, pedi para o pessoal cadastrado no meu site, que deviam ser umas 50 mil pessoas na época, doar qualquer quantia para uma ONG no Alemão que dá assistência a crianças carentes. Aquilo virou uma comoção na internet, um passando para o outro, mas no final das cotas deu R$ 3 mil. As pessoas participam compartilhando, mas não participam de verdade. Vem um abaixo-assinado, repassa, mas não vai lá assinar. Aquilo foi me deixando meio chateado e a música foi por conta dessa história. Aí eu fui surpreendido muito beneficamente pela população indo pra rua. Caramba, era isso que eu estava esperando há um tempo! Depois a gente fez o clipe e em quatro dias tinha 500 mil views.

Você trabalha com oficinas de composição, promove concursos de arranjo e imagino que te tragam uma dúvida muito comum sobre música pop que é a seguinte: assim como a sua fórmula do amor, a parceria com Léo Jaime, existe uma fórmula ou um caminho para criar uma boa música de sucesso popular?

Acredito que exista, eu não sei mais. Hoje em dia ficou mais complicado porque não há mais as gravadoras. O que sobrou é algo reduzido demais, com letras pequenas e refrões muito fáceis. Quando dou uma oficina, não é isso que estou visando. Quero que a pessoa que componha encontre a sua voz. Um compositor que me importe é um compositor que fale coisas de um jeito particular. Adoro quando ouço uma música e falo: "Nunca tinha pensado desse ponto-de-vista!”.

Pergunto isso porque fazer música popular de qualidade é um tremendo desafio...

Acho que o Tom Jobim dizia que fazer música difícil é fácil, agora fazer música fácil é difícil!

Fotos: Fernando Amaral
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