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17 de mai. de 2013

Antes de se apresentar no auditório da Rádio Canal Brasil para celebrar o aniversário de um ano da emissora, Dado Villa-Lobos bateu um papo sobre seu novo álbum, "O passo do colapso", a repercussão em torno dos filmes "Somos tão jovens" e "Faroeste caboclo" e sua história como eterno guitarrista da Legião Urbana. Essa entrevista foi originalmente publicada no site da Rádio Canal Brasil. Compartilho com os amigos que (ainda) entram no meu blog pessoal.  

Tanto "O passo do colapso", quanto seu primeiro álbum de estúdio, "O jardim de cactus", possuem muitas participações e parcerias. Existe algum segredo para um trabalho dessa natureza fluir com naturalidade? Como dar conta de tantas cabeças pensantes e diferentes reunidas?


Essas soluções foram naturais, são pessoas muito próximas. Desde os compositores como o Laufer, o Fausto Fawcett, o Nenung... Nesse disco, o Kassin falou assim: vamos chamar o [Rodrigo] Barba para tocar bateria, o Bonfá, o Lourenço [Monteiro] que toca comigo, o Laufer toca baixo, enfim, foi um revezamento de instrumentos. E aí fui pensando ao longo do processo, antes de finalizar, em certas canções como "Beleza americana" ter o Arto Lindsay cantando o verso naquele jeito bem americano. Simbolicamente, acrescentou muito à música. A Mallu Magalhães chegou fazendo "Quando a casa cai", sobre a separação de um casal. Pensei numa voz feminina para fazer esse contraponto. A Cristina Braga toca harpa e eu participei de um disco dela, já o Christiaan Oyens toca slide em "Beleza americana", novamente trazendo a coisa americana para a canção, e foi assim, super natural, sempre buscando trazer mais força para canção e integridade para ela acontecer.

"O passo do colapso" traz reflexões de toda natureza, às vezes com um viés pessimista, realista, há questões políticas, mas o final é bem impressionante com Eduardo Galeano recitando "El parto" antes da faixa-título. Como surgiu a ideia desse desfecho? Você já conhecia o escritor pessoalmente?


Não, aí é que está, todas as coisas percorreram esse caminho meio maluco, mas muito natural, sem forçação nenhuma. Eu tenho um amigo uruguaio chamado Carlos Taran, e tenho uma afinidade com o Uruguai desde criança porque eu morei lá. O país é um lugar pequeno, todos se conhecem, daí ele falou sobre o disco, o conceito do colapso e teve essa ideia do poema do Galeano que, no final, é mais ou menos o reflexo do que é o disco, um parto interminável de três dias que, em princípio, não daria em nada, e aí vem a vida de novo e o ciclo recomeça. Um belo dia chegou a gravação do Galeano com uma versão em português e outra em espanhol. Escolhi a versão em espanhol. Depois foi musicar em cima e fazer aquele teminha final, quase uma caixinha de música. Fiquei feliz com o resultado e de ter o Galeano no disco.



Confesso que imaginei uma participação do Andy Gill, guitarrista do Gang of Four, nesse álbum. Isso se passou pela sua cabeça em algum momento?


Opa, seria lindo, mas não deu tempo! Tocamos, ficamos próximos, fui à Londres no começo do ano e fiquei na casa dele. O Gang of Four está fazendo um disco novo e ele até me mandou uma música nova para fazer uma versão em português e gravar, então ainda vai acontecer esse encontro.

Esse ano é muito especial para os fãs de Legião Urbana porque além do seu disco, temos dois filmes saindo agora que revivem a obra da banda e a vida do Renato Russo. Você consegue imaginar como ele reagiria a tudo isso caso estivesse aqui com a gente até hoje? Me refiro a se ver representado no cinema, ao revisionismo que existe sobre a obra da banda...


Eu acho que se ele estivesse aqui, isso nem estaria acontecendo. A gente poderia estar junto, de alguma forma completando seus 30 anos como Paralamas e Titãs. A relação é outra, né? Ele se foi e você tem que lidar com essa situação toda. Eu acho que o Thiago Mendonça arrebentou. A cena de Brasília tem no seu âmago o que realmente aconteceu alí no filme.

No futuro, os fãs podem esperar um filme ou mesmo um documentário sobre os últimos dias de Renato, ainda que esse tema seja tratado com muita privacidade pela família?

Eu acho que não. O Renato não gostaria disso. Agora especula-se, "ah, vamos contar a história depois da banda", essa história todo mundo conhece. Não é necessário conhecer os detalhes pessoais em torno do que aconteceu com o Renato... Talvez isso seja escrito um dia.



"Somos tão jovens" mostra que você não era um exímio guitarrista lá nos primórdios. Seu talento evoluiu a ponto de você virar um frontman e ter na bagagem até trilhas sonoras para filmes. Você é o tipo de músico que sempre estudou muito e correu atrás dessa evolução ou foi aprendendo tudo basicamente no dia a dia de palco e estúdio?


O jeito como funcionava ali em Brasilía era o seguinte: a gente não tocava a música de ninguém, só as nossas próprias músicas. Eu fui desenvolver o que toco na guitarra com as primeiras músicas da Legião que estão no primeiro disco e que foi o repertório montado para o primeiro show na ABO, em março de 1983. E a partir dali foi muito rápido. Em dezembro estávamos no Rio gravando as demos e em 1984 gravamos o disco. Tudo foi muito intuitivo e natural. Não pensávamos definitivamente em ser uma banda de rock. As pessoas estudavam e ainda moravam com os pais. Tudo se acelerou em 1983, mas nunca tive a ideia de que a gente ia fazer uma banda e sair tocando Brasil adentro. A partir desse momento em que a gente se estabelece e vem morar no Rio, eu quis sempre aprender, sempre crescer... Eu tinha 20 anos. Eu queria saber como funciona um estúdio e ter o domínio do meu instrumento.

Uma cena emblemática sobre essa intuição musical é quando seu filho Nicolau (que interpreta Dado Villa-Lobos) cria o solo de "Ainda é cedo"...


Foi exatamente daquele jeito! Quando o Bonfá e o Renato me chamaram para substituir o Ico Ouro-Preto, que ficou só um mês na banda, eles tinham feito "Ainda é cedo" e era a única música que existia. A gente ia apresentar aquilo para o Hermano Vianna na casa do Fê [Lemos]. Foi quando o Renato falou: "Bota uns barulhinhos aí, tipo Gang of Four". Foi daquele jeito, eu nem conhecia a música, não teve ensaio.



Ainda sobre o filme "Somos tão jovens", muitas pessoas perguntam sobre a ausência do baixista Renato Rocha, mais conhecido como Negretti. Houve algum motivo especial?


O Renato Rocha deveria aparecer por ali, mas ele não tinha banda ainda. Ele entrou na Legião depois de a gente sair de Brasília, em 1983. Ele, na verdade, entrou um pouquinho depois, foi quando o Renato Russo cortou os pulsos e a gente viu que precisava de um baixista. Ele não queria mais cantar e tocar. Aí o Bonfá chamou o Negretti.

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