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26 de jan. de 2009

Com quarenta anos de história, o movimento tropicalista já foi estudado, revisitado e recebeu todo tipo de tributo que merece. O desafio, hoje em dia, é produzir algo relacionado ao tema que ainda seja relevante. O projeto Off Tropicália, que está acontecendo no Espaço SESC, em Copacabana, tem o mérito de mostrar justamente uma faceta do movimento pouco conhecida do grande público.

Numa espécie de mini-festival, Nina Becker e banda Do Amor, Rubinho Jacobina e Silvia Machete recriam três álbuns da música brasileira influenciados pela estética tropicalista. Eles se apresentaram na quinta, sexta e sábado, respectivamente, e repetem a dose nesta semana nos mesmos dias. Nina Becker e o Do Amor recriam Build Up (1970), o primeiro álbum solo de Rita Lee; Rubinho Jacobina recria Jorge Ben (1969), de Jorge Ben; e Silvia Machete interpreta Carlos, Erasmo (1971), de Erasmo Carlos. A curadoria do projeto é de Nina Becker e Marcelo Callado, baterista do Do Amor.

Exceto por Rita Lee, que participou ativamente do tropicalismo junto aos Mutantes, os álbuns homenageados de Jorge Ben e Erasmo Carlos são frutos de artistas que influenciaram e foram influenciados pelo movimento. O trabalho de Jorge é um festival de sucessos, de longe o mais conhecido do público. Já o disco de Erasmo é o registro do amadurecimento artístico do Tremendão. Foi um fracasso comercial, mas o tempo tratou de mostrar o valor da obra e, hoje em dia, Carlos, Erasmo é cultuadíssimo, com toda justiça. Já a sonoridade do trabalho de Rita é muito parecida com a dos álbuns dos Mutantes. Arnaldo Baptista, então marido de Rita, fez a direção musical, Rogério Duprat fez os arranjos e Lanny Gordin tocou guitarra.

Até agora eu conferi as apresentações de Rubinho Jacobina e Silvia Machete. Além da idéia do projeto ser fantástica, o preço é atraente (R$16 inteira, R$8 estudante) e o Espaço SESC é extremamente aconchegante. O formato de teatro de arena permite uma maior interação entre músicos e plateia e ainda dá o clima despojado adequado ao projeto.

Rubinho e a banda intitulada Força Bruta (nome de outro álbum de Jorge) tiveram a participação de Wilson das Neves, uma espécie de lenda das baquetas brasileiras. Achei que o show pecou pelo excesso de respeito ao próprio disco. Imagine músicos extremamente competentes tocando as canções exatamente como se houvesse uma vitrola girando no canto do palco. Foi correto demais. O resultado foi um show morno, mas nem por isso dispensável.

No dia seguinte, Silvia Machete justificou o pesado fardo de “sensação do momento”. Suas apresentações, conhecidas pela teatralidade e pela estética kitsch (inspirada no tropicalismo?), deram lugar a uma performance mais contida, mas ainda assim espontânea. O visual continuou o mesmo, incluindo a pombinha branca no cabelo, marca registrada da cantora.

A música de Erasmo, o que de fato importava ali, foi executada brilhantemente. Silvia e banda mostraram o que talvez tenha faltado a Rubinho no dia anterior: originalidade na recriação dos arranjos, no limite entre a reverência e a ousadia. Dois Animais na Selva Suja da Rua, Gente Aberta e Em Busca das Canções Perdidas Nº2 foram alguns desses momentos sublimes. Vale conferir cada vídeo no Youtube.

Uma boa sacada foi a inclusão da música Toda Bêbada Canta, do repertório de Silvia, após Não Te Quero Santa, nona faixa do Carlos, Erasmo. A cantora explicou que uma é a resposta da outra. No bis, mais uma surpresa para o público: Sou uma Criança Não Entendo Nada e Ilegal, Imoral ou Engorda, sucessos da dupla Roberto e Erasmo que não fazem parte do álbum em questão.

Depois do show, conheci a cantora no camarim, mas não pude tirar foto porque a pilha da máquina tinha ido para o espaço... Uma pena!

Pretendo ir no show da Nina, apesar de achar que o álbum da Rita Lee é o menos interessante entre os três homenageados. Os próximos shows acontecem nos dias 29, 30 e 31 de janeiro, às 21h. Fica a dica!

No vídeo, Silvia e banda tocam Gente Aberta. A música também aparece em outras apresentações da cantora.


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2 comentários:

Unknown disse...

Olha, vou te falar que a Silvia Machete até que está comportada - no sentido roupa- nesta apresentação.. cheguei a ver uma outra na TV que me assustou (ela estava cheia de plumas, bem à la Bjork, hehe)

Adorei a música!! Deve ter sido muito legal mesmo, me motivou. =)

Ás vezes a gente se prende à artistas conhecidos no grande mercado e não tem noção do que está perdendo por aí...

Boa sorte nas próximas vezes com a sua câmera, by the way. Acontece nos melhores shows - eu é que também sei! rs

O post ficou super legal, muito rico! =)

Bjs

Vinícius Faustini disse...

Olha, eu assisti somente à apresentação da Silvia Machete, e é sobre ela que vou falar... Gostei muito da interpretação dela, achei legal a banda seguir os (ótimos) arranjos do LP "Carlos, Erasmo...". Foi muito agradável de ver novas leituras de um disco fantástico.

No entanto, achei que o show ficou carente de algumas coisas. Certo, o projeto é "OFF-Tropicália". Certo, o disco "Carlos, Erasmo" está num contexto "OFF-Tropicália". Mas por que ele está lá? Sei que é show, que o público quer que ela cante, que ela é ótima, mas podiam explicar um pouco o por que este disco é tão tropicalista!

Podiam citar também algumas curiosidades, como:

- foi lançado em 1971, ano no qual o parceiro de Erasmo, Roberto Carlos, lançou seu disco mais cultuado por críticos musicais (que traz músicas dele e de Erasmo como "Detalhes", "Todos estão surdos", "Debaixo dos caracóis dos seus cabelos" e "De tanto amor", além de uma linda interpretação para "Como dois e dois", de Caetano Veloso)

- a Silvia não sabia de qual novela era a música "Ciça, Cecília"... Custava alguém pesquisar e dizer? Era "A próxima atração" o nome da novela.

- "Maria Joana" teve arranjo de Rogério Duprat (arranjador de vários discos tropicalistas) e Erasmo teve a luxuosa participação da Caribe Steel Band

- em entrevista recente, Erasmo Carlos contou que embora tenha gravado "É preciso dar um jeito, meu amigo", a canção foi quase toda escrita pelo Roberto Carlos (seria legal dizer isso, porque desmente o fato de RC ser o "alienado" que tanto querem pregar).

Outra coisa. Sim, pode ter sido um disco feito pelo Erasmo, é o estilo dele, mas PRA QUE SUPRIMIR A PARCERIA DO ROBERTO CARLOS? Parece que têm vergonha de o mesmo sujeito que tanto é pichado pela pretensa crítica musical pode ter contribuído pra um disco tão fantástico quanto este que é o "Carlos, Erasmo".


Tá, eu sei que posso estar parecendo um "caga-regra", sou muito fã de Erasmo Carlos, sou muito fã de Roberto Carlos e tralha e tal... Confesso que fui ao show principalmente pelo disco, que é fascinante. Mas acho que algumas informações como estas são indispensáveis quando se tem um projeto tão legal como o "OFF-Tropicália"! Afinal, estes discos que fazem parte das releituras não estão aí à toa...

Bom, é isso.

Sds,

Vinícius Faustini

www.diariodeumsalafrario.blogspot.com

www.emocoesrc.blogspot.com