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17 de jul. de 2010

Sabe aquele disco que todo mundo acha horroroso, mas você ama ele mesmo assim? Pois bem, essa é a minha relação com o Born again (baixe aqui), álbum lançado em 1983 pelo Black Sabbath, numa época em que a banda começaria a se desfigurar de vez. Ainda que o trabalho seja odiado pela crítica, entre os fãs ele conseguiu alguns defensores ferrenhos e talvez por isso mesmo ele ainda conserve uma aura de clássico incompreendido. Pra mim, Born again é um clássico patinho feio, que conquista o ouvinte justamente com sua esquisitice.

O Black Sabbath vinha de uma sequência fantástica no começo dos anos 80. A saída de Ozzy poderia ser o fundo do poço para a banda, mas a entrada de Ronnie James Dio permitiu o nascimento de dois petardos do rock pesado: Heaven & hell (1980) e Mob rules (1981). Em 1982, Dio e o baterista Vinnie Appice saíram da banda após desentendimentos na mixagem de Live evil e, mais uma vez, o Sabbath ficou à deriva. A solução para manter o pique foi chamar Ian Gillan, vocalista da formação clássica do Deep Purple, que na época preparava-se para voltar à ativa com a banda. Como o projeto não andava, ele topou cantar com os "rivais" da década anterior.

Born again deveria ser o renascimento do Sabbath, como sugere o nome, mas, pra quase todo mundo, ele acabou sendo uma verdadeira pá de cal. A lista de aparentes equívocos não é pequena: em vários momentos fica a sensação de que a banda "quer" soar como o Purple. Para um fã dos trabalhos clássicos do Sabbath esse erro já seria mortal. Junte a isso a postura de Gillan, que não combinava em nada com o clima soturno de Iommi e cia, e uma produção/mixagem meio porca. Pro "estrago" ficar completo, a capa do disco é uma das coisas mais medonhas do mundo, fazendo a minha definição de "patinho feio" soar como eufemismo...

Mas aí eu desafio: dá pra ficar parado ouvindo Trashed, Hot Line e Digital Bitch? São três hard rocks exemplares movidos a muita bebedeira. Zero the Hero, faixa mais famosinha do disco, pode até não ter uma das letras mais inspiradas, mas tem alguns dos melhores ingredientes do Sabbath, como o baixo pesadíssimo de Geezer Butler e um solo avassalador de Tony Iommi.

Disturbing the Priest talvez seja o melhor exemplo da fusão bizarra entre a voz estridente de Gillan e o peso do Sabbath. Não soa como nenhuma das duas bandas. É quando você arremessa o disco pela janela ou abraça a causa de vez. A inspiração da letra veio depois que um padre reclamou do barulho que a banda fazia durante as gravações. Os integrantes pediram desculpas, saíram para tomar uma cerveja e nasceu a música.

Até aí, Born again seria um álbum divertido, estranho, controverso e ponto final. Mas eis que surge a faixa-título, já no lado B da bolacha original, exigindo o status de clássico instantâneo, na maior cara-de-pau. Born again, a música, é emocionante e perturbadora (everybody's got think like a hunter/ just search for your prey), um golaço do "Deep Sabbath".

Depois de fazer essa defesa afetiva, alguém pode chegar e dizer: "mas os próprios caras do Sabbath e o Ian Gillan desprezam esse disco, eles reconhecem que ele foi um erro". Eu sei, mas não importa. Isso só confirma que Born again é um dos "melhores-piores" discos da história do rock.

O "clipe bagaceira" de Trashed tem duas versões. Fiquemos logicamente com aquela que foi censurada.

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2 comentários:

Rany disse...

PH, apesar de eu não ter gabarito para argumentar a favor ou contra sobre este segmento (rs), muito bom texto. =)

E sobre o vídeo, ok, medo.

Anônimo disse...

Esse vídeo é clássico!

Eu gosto do disco, apesar de achar que é um trabalho abaixo da média da banda, e realmente a fusão entre os dois não deu muito certo.

Ainda bem que o Ian Gillan voltou pro Deep Purple!

Abraços